segunda-feira, 5 de agosto de 2013

BNDES libera R$1,5 bi para empresa da Bertin, que deu calote histórico no setor elétrico

Bertin cultivou boa relação com o governo.

O BNDES liberou, em 15 de março, um empréstimo de R$1,58 bilhão para a SPMar, concessionária de rodovias responsável por construir um trecho do Rodoanel em São Paulo. O número consta do balanço das liberações indiretas do banco estatal no primeiro trimestre. Foi a maior operação do tipo no período. Mas a obra está com investimentos atrasados - a empresa precisa aportar R$2 bi em sete meses para cumprir o contrato, uma tarefa homérica. 

A SPMar pertence ao Grupo Bertin, uma agroindústria que ampliou a atuação para a infraestrutura após a venda de seu negócio em frigoríficos para a JBS.

Mas a história da Bertin é particularmente interessante no setor elétriico. Ali, ela é cheia de altos, baixos e principalmente perdões. A companhia entrou agressivamente em leilões para a construção de novas usinas de geração de energia. Entre 2007 e 2009, vendeu a produção futura de uma série de térmicas nesses certames para as distribuidoras de energia - que abastecem o consumidor final.

Em janeiro de 2010, quando uma das plantas precisaria entrar em operação, começou o problema. A obra sequer havia sido iniciada. Projetos com entrega de energia marcada para 2011 também mal haviam começado a ser construídos. Ainda assim, a Bertin entrou no consórcio Norte Energia, que venceu a concessão da hidrelétrica de Belo Monte. A companhia tinha 9% do empreendimento, o que exigiria aportes de R$2,5 bilhões.

Mas a Bertin não tinha condição financeira de tocar nem sequer suas térmicas. Prometera investimentos bilionários acreditando que conseguiria empréstimos, mas veio a crise internacional e o dinheiro fácil sumiu do mercado (ao menos é isso o que a própria empresa tem alegado).

As usinas de 2011 começaram a dar algum sinal de vida, mas eram ainda embrionárias quando a ANEEL, órgão regulador do setor elétrico, resolveu multar a Bertin. A empresa se defendeu - alegou que o Poder Público atrasara a assinatura de outorgas dos projetos. E teve três dos cinco votos da diretoria do regulador a favor do perdão parcial de multas que lhe seriam aplicadas.

A Bertin prometeu que entregaria essas usinas ainda em 2011.

BNDES: os melhores investimentos.


FALSAS PROMESSAS
Até as termelétricas da Bertin para 2011 ainda não estão operando. Pode-se dizer que a ANEEL deu um voto de confiança na companhia. Mas os projetos continuaram a não sair do papel - as usinas de 2011 pararam de novo. Começou a ficar evidente que a empresa ia dar default com outra série de térmicas, estas que precisariam operar em 2013.

A Bertin, então, entrou com um pedido de renegociação de contratos para não ser multada, alegando que, com a crise, as distribuidoras não tinham necessidade da energia comprada de suas usinas. Assim que a ANEEL começou a analisar o pleito, a companhia começou a acionar a justiça e foi obtendo liminares para ganhar tempo e se eximir de pagar as dívidas que começava a acumular com o setor, entre multas e energia não entregue.

A Bertin se reestruturou e tentou pagar parte das dívidas e entregar as usinas, mas foi novamente surpreendida, dessa vez pela súbita elevação do preço da energia. Com as plantas atrasadas, a empresa precisava comprar energia para compensar a falta de geração. A disparada de preços levou a calote e mais ações judiciais.

Entre uma e outra parte dessa crise toda, a Bertin obrigou o governo a arrumar um comprador para sua fatia em Belo Monte - a Vale ficou com o ativo -, vendeu projetos para a MPX, de Eike Batista, e começou a tentar desistir de outros ativos.

No final, a Bertin teve revogadas as autorizações para construir a maior parte das usinas e perdeu milhões em garantias financeiras que haviam sido depositadas nos leilões de que participou. Acumulou débitos milionários também no mercado spot de energia.  E ainda assim conseguiu mais uma chance da ANEEL para concluir uma parte de suas usinas ainda neste ano. Três delas em julho. Ainda não há notícias de que elas estejam operando.

FUNDOS DE PENSÃO FAZEM MAU NEGÓCIO

O Grupo Bolognesi mostrou interesse em adquirir a Bertin. A mesma companhia comprou a Multiner, uma empresa privada que também atrasou usinas. Na operação de aquisição da Multiner, que envolveu R$1 bilhão, a Bolognesi, até então apenas uma pequena empresa de energia, teve ajuda de quase R$400 milhões em dinheiro de um Fundo de Investimento no qual constam como sócios fundos de pensão públicos, como Petros e Funcef.

Na época, a Multiner enfrentava problemas com usinas assim como o Bertin e não tinha previsão de entregar seus empreendimentos. Posteriormente, planos de reestruturação dos projetos apresentados pelos novos controladores não foram aceitos pela ANEEL. A empresa recém-comprada, então, significou imensos prejuízos para Bolognesi e os fundos.

OBRIGADO, CRISE E PIBINHO
O país, no total, enfrentou um calote na entrega de 5GW entre térmicas da Bertin e da Multiner. Só não houve um racionamento porque a demanda caiu com a crise. As distribuidoras ficaram sem a energia que tinham comprado da Bertin. Mas não podiam comprar mais contratos em leilões enquanto a ANEEL não revogasse seus compromissos com as usinas atrasadas. No setor elétrico, o governo agradeceu pela crise. 









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